domingo, 11 de março de 2012

Momentos...


Silenciosos...


Aqueles em que dispo a armadura, atiro para um canto a força e pouso no chão a garra que me caracteriza,  lado (aparentemente) forte e magnânimo, gritante, o que inúmeras vezes ultrapassa o limiar do razoável, até para mim mesma, e solto o lado que vive enclausurado... deixo-o respirar livre um pouco. Esvoaça pela sala impregnando-a de um aroma delicado a açucenas brancas, acende as velas de travo caramelizado da minha sinfonia interior, recria uma luz ténue e o corpo que jaz cansado e prostado no sofá aninha-se, molda-se e reconforta-se. Pede...

Fecho os olhos... No escuro e mais puro silêncio, os pensamentos soltam-se dos grilhões impostos, surgem em catadupa, sôfregos, atropelados.  Espero... que lentamente percam a velocidade atroz e sosseguem, alinhem e posicionem no quadro que me permito criar mentalmente. Cada um no seu lugar, deixo que me toquem qual engodão embebido em néctar suave e adoçicado, tacteando, dedilhando milimétricamente, movimentando o corpo e alimentando a alma de forma incólume. Deixo...

Que a nostalgia surja e a lágrima caia... Sem receio, sem barreiras a travar-lhe o percurso ou rota, cai desgovernada, sem rumo, sózinha. Uma apenas... Ao passo que lhe sinto o sal consciencializar-me da sua presença ao molhar-me a face, sorrio-lhe, numa ambiguídade tão minha. Egoísta e paradoxalmente generosa, pede silenciosamente pelas outras que se encontram enclausuradas ainda. Permito...

Abro os portões dourados e qual chuva que me restaura a secura da alma, descem e fazem-se pérolas. O gelo que me percorre o espírito espalha-se pela sala, encarquilha-me e contorce-me o fisico,  tonalidades frias e sombrias circundam-no e assaltam-me, numa viagem ao centro do meu "Eu" que me entorpece e desestrutura, espraiando fragmentos meus em recantos escondidos. Solto...

O lado mais guardado, puro,  retiro-lhe o freio por momentos, a mordaça que acompanha a carapaça cai por terra, a que hábilmente em traços e teias invisíveis mas indeléveis vem sendo criada pelas agruras, exaltações, aprendizagens, experiências vivenciadas que me fazem ser quem sou, como sou, quando sou e porque o sou. Trémula, sinto a invasão de sentimentos que se manifestam fisicamente. Falta...

O Tudo, preenche-se o Nada, grita o Passado, imiscui-se no Presente, pincelando o Futuro. Mesclam-se os tempos, os espaços, as facetas e a ampulheta pára... Por momentos, aquele momento, O momento, em que me falta a compreênsão, a cândura, a sapiência, o desabrochar e trilhar, desbravar de caminhos por entre os espinhos que a rosa em mim alimenta e teima em afiar. Adormeço...

Mergulhada no mar que brota das entranhas e lados agrestes, frágeis, revoltos, carentes, exigentes, intensos, embargada nas ondas da nostalgia, perdida pelos corredores, esquinas a perder de vista do meu espírito e fecho a caixinha... As asas cravadas na carne encolhem-se, o tritão é coberto em cetim cor de sonho e envolvo-me nas que soltei, felpudas e aconchegantes. Não chega..  Mas a consciência não tem lugar, o surreal ganha terreno e consistência, permitindo-me sossegar e descansar a alma...Até ao dia em que a abrirei de novo, deixando-a Libertya... isenta de chave dourada...



8 comentários:

Unknown disse...

Libertya e... Intens(y)a...

Stargazer disse...

incrível e bela esta descrição tão tua, intensa e infinitamente doce, repleta de brilho dourado e Libertyo!

Beijo-te uma a uma, as pérolas que escorrem pelos sulcos da tua pele, com carinho genuíno!

Beijo (Amigo)

Moi disse...

Que texto magnifico!

Ir mais além que as palavras, os sentidos soltos, livres do freio que os acorrentam. Adorei!


Um festa em teu rosto, limpo a tua lágrima solitária...






Beijos

Anónimo disse...

Afago o teu rosto com uma mão e dou-te um beijo na outra face...esse texto saiu mesmo lá de dentro...


a este escrito chamo-lhe Vida...


beijo

-___-

Libertya... disse...

Foxos,

As minhas verdades... Intens(y)as...

Libertya... disse...

Star,

Sabe tão bem deixar o anjo doce vir ao de cima e flutuar pelo espaço circndante...

Sorrio perante cada um desses beijos, num jeito muito menineiro (como costumas escrever) :)

Beijo assim mesmo!

Libertya... disse...

Moi,

Eu e as palavras temos uma ligação assim... sentida e livre. Nem sempre num registo tão solto, ou intenso desta forma, mas sempre em simbiose tão nossa.

Carinhosamente te agradeço o gesto e retribuo o beijo!

Libertya... disse...

Gadreel,

Senti o teu gesto docemente angelical, e sorri...

Beijo impregnado de vida!